Gestão compartilhada é estratégia para manejo da irrigação e dos recursos hídricos
A
gestão compartilhada da água foi tema da palestra do pesquisador da Embrapa
Cerrados (Planaltina, DF) Lineu Rodrigues, na terça-feira (20), durante o 8º
Fórum Mundial da Água. No estande do Governo do Distrito Federal, no
Espaço Expo, o pesquisador apresentou também a plataforma tecnológica, em
desenvolvimento, que auxiliará os agricultores no manejo da irrigação e dos recursos
hídricos.
Em um cenário de aumento populacional, a demanda por alimentos
será cada vez maior e, consequentemente, o consumo de água. Estima-se que 97%
da agricultura brasileira dependem da água da chuva (sequeiro) e 3% da
irrigação. “No Brasil, em geral, usamos menos de 1% da nossa disponibilidade
hídrica. O problema é que temos bacias críticas em termos de disponibilidade
hídrica e que fazem uso intensivo da agricultura irrigada”, afirmou Rodrigues.
A previsão futura, até 2050, é de aumento de 11% da área de
irrigação, sendo, nos países em desenvolvimento, de 80% a 90% da água retirada
das bacias hidrográficas utilizadas no setor agrícola. Com o sistema de
irrigação cresce os custos dos agricultores em função do preço da energia.
Atualmente já existe conflito pelo uso da água em algumas bacias
hidrográficas. Rodrigues citou o exemplo da bacia do Rio São Marcos,
que abrange os estados de Goiás, Minas Gerais e o Distrito Federal. São 101.550
hectares irrigados com água desse rio, tendo 1.197 pivôs centrais. Parte da área
irrigada, cerca de 71 mil hectares, está a montante da Usina Hidrelétrica
Batalha, localizada no município mineiro de Paracatu. Nessa bacia os conflitos
pelo uso da água são entre irrigantes e desses com a Usina.
No oeste da Bahia, de acordo com o pesquisador, a crise hídrica
está tão grande que cerca de 60% dos 120 mil hectares da área irrigada tiveram
a irrigação suspensa por um período determinado. O prejuízo econômico para os
produtores dessa região chegou a ordem de 1 bilhão de reais.
Plataforma computacional - Uma das estratégias para
organizar o uso da água, apontada por Rodrigues, é a gestão compartilhada, em
que um grupo de agricultores solicita a outorga coletiva da água e decide a
melhor forma de usá-la. Para auxiliar a decisão dos agricultores em como
utilizar a água está em desenvolvimento uma plataforma de manejo de irrigação e
recursos hídricos em bacias hidrográficas. A plataforma busca contribuir para
otimizar o uso dos recursos hídricos e a irrigação em uma determinada bacia.
“A ferramenta vai dar uma opção, uma sugestão de como os
agricultores podem utilizar a água de forma organizada. A ideia é fortalecer os
usuários e os comitês de bacias hidrográficas. Essa ferramenta será
disponibilizada para as associações de irrigantes, de produtores, de tal forma
que eles se organizem e tomem a decisão da melhor forma de usar a água dentro
da estratégia de gestão compartilhada”, ressaltou Rodrigues.
O projeto que terá como resultado tecnológico a criação da
plataforma é financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal
(FAP-DF). Durante a execução do projeto será estimada a quantidade de água que
está sendo utilizada em determinada bacia, e por meio desse monitoramento, o
agricultor será informado da quantidade de água que ele está utilizando, quanto
o vizinho dele está utilizando e o quanto de água tem no rio.
O pesquisador apresentou as linhas gerais da plataforma. A
ferramenta será constituída por um ambiente de planejamento (cenário futuro) e
um ambiente de manejo (situação atual). Os ambientes serão constituídos por
módulos. O módulo da demanda hídrica, por exemplo, reunirá ferramentas para
informar sobre a demanda hídrica necessária em dado momento em determinado
trecho do rio. O sistema calculará diariamente as necessidades hídricas das
culturas localizadas em uma determinada região da bacia.
“Quando for o momento de um determinado usuário irrigar, o
sistema enviará uma mensagem ao seu telefone celular informando o quanto ele
precisa irrigar, quantas pessoas necessitam irrigar juntamente com ele e se há
água suficiente no rio para atender a todas as demandas. Caso não haja água
suficiente no rio, o sistema irá apresentar algumas estratégias de irrigação
que podem ser adotadas ou não pelos usuários”, explicou Rodrigues ao
acrescentar que a previsão é de que a plataforma esteja disponível para ser
testada em uma área piloto no fim de 2019.
Na quarta-feira (21), o pesquisador da Embrapa Cerrados foi um
dos debatedores do painel sobre o “Uso eficiente da água na irrigação –
compartilhamento de água e energia”. Os palestrantes abordaram o panorama mundial
da agricultura irrigada, o potencial de irrigação no Brasil e relataram
experiências que reduziram o consumo de água e energia. Foram citados os
exemplos do Distrito de Irrigação Nilo Coelho, em Petrolina (PE), o projeto
piloto da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba
(Codevasf), na Bahia, e projeto de irrigação do Arroio Duro, de arroz irrigado
no sul do país.
Na quinta-feira (22), a palestra sobre gestão compartilhada da
água foi apresentada na Vila Cidadã, espaço do Fórum Mundial da Água gratuito e
aberto ao público de Brasília. O tema foi debatido por visitantes de diferentes
áreas de atuação.
Fonte: https://www.noticiasagricolas.com.br
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