As lições de gestão e liderança de Abilio Diniz

O que o empresário quer aplicar na BRF e como ele acredita ter conquistado o sucesso
Abilio Diniz (Foto: Barbara Bigarelli)Abilio Diniz (Foto: Barbara Bigarelli)
No próximo dia 6 de setembro, completará um ano que Abilio Diniz deixou o Grupo Pão de Açúcar, após mais de dois anos de conflitos duros com os sócios franceses. Foi quando ele também deixou, ao menos formalmente, o varejo brasileiro e mudou-se para o outro lado do balcão: a indústria brasileira. Hoje, como presidente do conselho da BRF - companhia resultante da fusão entre Sadia e Perdigão - Abilio afirma estar em um "momento muito feliz de sua vida". "Estou liderando um processo de recuperação de uma das maiores companhias brasileiras e capitaneando a equipe para torná-la uma companhia global e não apenas exportadora", afirmou nesta quarta-feira (27/08), durante palestra no 17º Fórum de Varejo da América Latina, promovido pela consultoria Gouvêa de Souza (GS&MD).

O momento é também "de muito aprendizado", já que o empresário está envolvido ativamente no mercado financeiro através da Península, empresa de investimento que administra sua fortuna. "Eu brincava que, em uma próxima encarnação, queria ser banqueiro. Agora, estou exercitando um pouco disso. É um mundo completamente diferente do varejo - que eu achava muito inspirador, mas exigia uma enorme transpiração. Agora, preciso do contrário. Preciso de inspiração para saber resistir a tentações e ter cuidado sobre onde investir". Abilio afirma que os próximos passos da Península incluem o investimento em private equity em várias empresas, entre elas a própria BRF e uma companhia do setor de distribuição.
Abilio também comentou sobre as lições que aprendeu e praticou ao longo de sua carreira para chegar ao sucesso. Tudo muito bem planejado e com prioridades claras, ele ressalta. "A gente é vencedor por opção. Escolhemos o que fazemos na vida". Para o empresário, empresas vencedoras precisam ter quatro premissas básicas: almejar além do lucro, saber gerir pessoas e ter uma cultura e liderança fortes. Abaixo, confira as dicas que ele deu tanto para empresários quanto para profissionais que buscam maior equilíbrio, conquistas e realizações em seu dia a dia:
Tenha um propósito maior que o lucro: Pense naquilo que você faz além da atividade principal de sua empresa. Você é capaz de fazer algo além do objetivo do lucro? Pense no que vai acontecer se sua empresa deixar de existir. Se ela acabar, outra ocupará o lugar. Mas ocupará mesmo? É o que eu dizia no GPA e procuro fazer na BRF: a concorrência pode copiar tudo que fazemos, mas nunca vai conseguir copiar aquilo que somos. Aí é nosso diferencial. Se fizermos algo além, quando deixarmos de existir, ninguém nunca vai superar aquilo que nós fomos ou somos.
Tudo só funciona com as pessoas certas: uma gestão eficiente é fundamental para qualquer empresa e gestão se resume em gente e processo, processo e gente. Coloque as pessoas certas nos lugares certos, diga a eles como organizar os processos e as coisas irão funcionar. Por mais que eu tenha andado na minha vida, administrei empresas enormes, tudo que eu vejo e vi nesse caminho é gente. Nada funciona sem as pessoas certas ao seu lado.
Deixe seus funcionários participarem ativamente: A cultura de uma empresa vencedora está centrada nas pessoas. Leve em consideração cada um que trabalha com você e faça com eles se sintam donos do negócio. Integre-os dentro da empresa. Como fazer com que 10 mil pessoas na BRF sintam-se donas? É uma questão de criar cultura. Dê ações. Tenha acionistas de referência, dê bônus, participação de lucros, chame as pessoas para interagir dentro da empresa. O melhor modelo de companhia que eu vejo são aquelas que tem capital aberto porque dão a chance das pessoas participarem dela. Na BRF, o que eu sou hoje? Estou longe de ter uma participação que me dê tanto controle. Mas sou um acionista de referência para as pessoas e consumidores.
Tenha um líder humano: As empresas vencedoras têm uma liderança forte, humana e participativa. Não precisa ser um grande "star", alguém espetacular. Eu costumo dizer que líder é aquele homem do terno cinzento, que quase some na multidão, mas é líder, humano, solidário e sabe dividir. Em empresas menores, de até 50 funcionários, ter uma liderança assim faz ainda mais diferença.
Seja humilde: Quando falo de humildade não é usar roupa velha e nem fazer voto de pobreza. É ter consciência de que não é possível saber de tudo. Esteja pronto para ouvir, aprender, dialogar mais e aceitar a opinião dos outros. Se você é um cara grande e está conversando com uma pessoa menor e ela não consegue chegar até o alto, abaixe para ouvi-la.
Determine o que quer e tenha garra de ir atrás: Pense, investigue e questione: é isso que quero mesmo? Por que eu quero isso? E então tenha garra para buscar. Nessa busca, é preciso disciplina. Disciplina é valor e ferramenta. Meus amigos falam que eu sou irritantemente disciplinado. Posso irritá-los, mas eu não faria nem um terço do que fiz se não tivesse tido muita disciplina. E o que é ter disciplina? É saber ter agenda, se organizar, saber mexer com tempo, se programar, pensar no que farei hoje, amanhã, mês seguinte, daqui a cinco anos. O futuro a Deus pertence, mas se eu puder me programar um pouco, depois converso e checo com ele.
Antecipe-se e tenha equilíbrio: pense sempre como você gostaria que sua vida fosse daqui a 10 anos. Coloque um rumo e siga em frente. Nesse caminho, é preciso ter muito equilíbrio emocional para conciliar todas suas atividades e papéis. Eu aprendi a conciliar meu papel de gestor, pai, marido, amigo e várias outras atividades profissionais e sociais. Tenha sabedoria para manter tudo em equilíbrio. Tem aquele cara que sempre fala: estou amando o trabalho, tenho dedicação 24 horas, mal consigo ver minha mulher e filhos, mas estou muito feliz. Não, ele não está. Não adianta estar feliz com o que faz no trabalho, se não tiver realização na vida pessoal. Um polui o outro. As pessoas que têm equilíbrio emocional performam melhor.
Exercite seu corpo, liste prioridades e pratique o autoconhecimento: Não precisa ter uma imensa atividade física, basta mover o seu corpo, não deixá-lo de lado. Tenha uma alimentação saudável. As pessoas acham que eu sou aquele cara chato que só gosta da saladinha. Eu gosto de tudo que todos gostam: pizza, lasanha e feijoada. Mas não dá para comer só isso. Controle o estresse, para só se estressar com coisas realmente importantes na sua vida. Tem dificuldade de saber o que é realmente importante? Compre um caderno de 100 páginas e liste tudo que realmente ache digno de preocupação. Você vai preencher só 3 ou 4 linhas. Concentre-se nisso para só se chatear com isso. Pratique o autoconhecimento para saber quem está lá dentro de você, porque você se emociona com isso e vibra com aquilo. Assim, você saberá se relacionar melhor com as pessoas com que convive.
 fonte: ÉPOCA NEGÓCIO.

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