Pular para o conteúdo principal

Filhos de produtores se especializam para continuar no campo



Para incentivar a permanência de jovens no campo, muitas cooperativas agrícolas desenvolvem projetos como o Programa da Juventude Cooperativista (JovemCoop), promovido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), no Paraná.
Entre diferentes ações, o Programa promove o debate da sucessão rural para que haja continuidade do trabalho no campo. Lá os jovens se capacitam para implementar inovações por meio de tecnologia e métodos mais eficazes de produção, otimizando espaços, diminuindo custos e, consequentemente, gerando mais lucratividade aos empreendimentos.
No Paraná, este trabalho teve início nos anos 1970, mas se intensificou a partir de 1998 com a criação do Sescoop. Desde então, cerca de 500 lideranças jovens se reúnem anualmente para troca de experiência e capacitação, na busca de conhecimentos que lhes ajudarão em vários aspectos, como enfrentamento de desafios, busca por um propósito de vida e ações que possam concretizar seus sonhos pessoais.
A jovem Isabela Albuquerque é um exemplo disso. Aos 24 anos, ela coordena o Comitê de Jovens da Lar Cooperativa, no Oeste do Paraná. Formada em Gestão Comercial e pós-graduada em Recursos Humanos e Psicologia Organizacional, ela resolveu seguir os passos dos pais e avós e hoje divide com o pai a gestão dos negócios da família. “Escolhi um curso que pudesse ser útil na propriedade, mas que também fosse viável para o meu pai pagar e perto de casa. Por isso me formei em Gestão Comercial”, conta.
A família de Isabela cria suínos, produz leite e administra quase 30 hectares de terras. Eles produzem cerca de 500 litros de leite por dia. “Em nossa região existem muitos jovens interessados em assumir e continuar os negócios dos pais. A gente vê, inclusive, muitas mulheres à frente de propriedades de sucesso e isso é uma inspiração”, diz a gestora.
No entanto, ela não se vê satisfeita e quer aprender mais. Isabela acabou de começar uma nova pós-graduação, desta vez em Gestão do Agronegócio. “Com a graduação e a primeira pós-graduação, consegui satisfazer minha principal vontade, que era me aprimorar para trabalhar com pessoas. Agora estou buscando mais conhecimento para tornar nosso negócio mais viável”, explica.
As mudanças nos negócios da família de Isabela já são visíveis. Eles investiram em tecnologia, adquiriram maquinários que tornaram o trabalho mais fácil e construíram mais uma granja de suínos. “Essas mudanças permitiram diversificar a propriedade e torná-la viável para que mais uma pessoa permanecesse nela”, explica.
Antes de começar a trabalhar com o pai, a propriedade tinha uma granja para 500 animais. “Por eu ter escolhido seguir a profissão dos meus pais, procurei motivá-los a ampliar a atividade e construímos uma nova granja com capacidade para 1.000 animais”, conta. A propriedade também produz grãos: soja para comercialização e milho pra alimentação dos animais em forma de silagem. “Na parte da rentabilidade, meu pai divide o total líquido conforme o trabalho de cada um. Todos temos o próprio dinheiro e podemos administrá-lo”, afirma Isabela.
Agora, a irmã mais nova de Isabela começa a trilhar um caminho parecido com o dela: acaba de começar a faculdade de Medicina Veterinária, apesar de ainda não saber se pretende ou não seguir a vida profissional tocando os negócios da família. “Assim como eu, ela sempre viveu aqui e gosta do campo. Ainda é cedo, mas pode ser que ela também faça uma escolha parecida como a minha”, acredita.
Adriano José Finger é o caçula entre quatro irmãos. As três irmãs mais velhas já saíram de casa e não seguiram os passos do pai, que gerencia a propriedade rural da família. Adriano mudou esse quadro. Ele entrou na faculdade de Administração e já divide as responsabilidades na gestão do negócio, que fica no município de Santa Helena, no Oeste do Paraná.
“Meu pai sempre procurou ser uma pessoa organizada e planejada. Mas acredito que, depois que vim para cá, conseguimos evoluir mais, planejar melhor e investir mais no profissionalismo para gerir o nosso negócio”, conta Finger.
A propriedade produz gado de corte e leite. Depois de sua graduação em 2014, Adriano pôs em prática seus conhecimentos na produção de feno. Além de maior rendimento e segurança alimentar para o rebanho, isso proporcionou maior facilidade e qualidade no manejo e alimentação do gado.
“Como temos gado de corte, antes cortávamos grama para a alimentação deles. Tínhamos um grave problema no inverno, porque faltava estoque para alimentar o gado. Agora produzimos feno, resolvemos este problema. Também presto serviço para mais de 10 propriedades. Isso facilita o trabalho desses produtores que são parceiros e amigos, já que algumas demandas são em períodos sazonais. Assim, conseguimos atender a todos”, explica Adriano.
As ideias inovadoras do caçula e o retorno positivo trazido pelas mudanças fizeram com que ele ganhasse definitivamente a confiança do pai para gerir os negócios da família. “A parte boa de trabalhar com a família é que temos mais liberdade de argumentar, expor as ideias. A parte complicada é que nem sempre nos levam a sério. Então temos que explicar tudo bem certinho várias vezes. Mas vale a pena”, conta.
VOLTANDO PRA CASA – Ligia Mara Jung nunca pensou que, depois de deixar a casa dos pais para cursar Agronomia, em Maringá, acabaria voltando para trabalhar na propriedade da família. Ela teve a oportunidade de atuar em outros projetos, mas no fim das contas se viu infeliz e sem a qualidade de vida que sempre sonhou.
Depois de ver casos de outros jovens que voltaram para casa e conseguiram encontrar satisfação profissional, retorno financeiro e qualidade de vida trabalhando nos negócios da família, ela também decidiu fazer o caminho inverso e há quase três anos divide com o pai e um irmão a administração da propriedade dos Jung em Floresta, no Paraná.
Eles plantam soja, milho e também se dedicam à apicultura. Agora passaram a plantar morangos também, para Ligia pôr em prática seu projeto pessoal. “Não foi fácil. Posso garantir que no início era uma verdadeira queda de braço. Ter um pai que há 40 anos trabalha no campo e uma filha recém-formada cheia de ideias medindo forças foi tenso. Mas evoluímos e hoje tudo flui muito bem”, conta.
Apesar de dividirem a gestão da propriedade, Ligia sente a necessidade de adquirir conhecimento técnico específico na parte de administração e gestão, para ter controle efetivo sobre ganhos, perdas, lucros e o desenvolvimento da empresa da família. “Este é um projeto futuro, quero me especializar e conseguir deixar a gestão da nossa terra ainda mais profissional”, afirma.
Fonte:https://www.administradores.com.br/noticias/cotidiano/filhos-de-produtores-se-especializam-para-continuar-no-campo/126911/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Trabalhar com o que ama ou com o que dá dinheiro?

Habitualmente, a resposta é a própria pergunta. Trabalhe com o que ama, usufruindo de suas vocações e o dinheiro será a consequência. Se você ama sua carreira, já tem metade do que precisa profissionalmente. E considerar: talento, vocação, propósitos e valores; capacitar-se; ter equilíbrio emocional; encontrar oportunidades, estar pronto para assumi-las e as valorizar: mais 50%. É um todo matemático que torna grande a probabilidade de dar certo (alcançar lucros e rentabilidade). Porém sabemos que não é fácil. E ao falarmos de partes, metades e conjuntos, devemos somar, subtrair e pesar certos pontos. Precisamos pensar além do "habitual". Sonhos e decepções Desde criança somos condicionados a imaginar "o que queremos ser quando crescer". Os anos passam. Nos descobrimos, somos contagiados por experiências, vivências e contaminados bombardeadamente por responsabilidades. Tão explosivas às vezes, que acabamos adiando, atrasando e até mesmo, perdendo nossos sonhos ...

BC vê inflação menor em 2017 e cenário de corte mais intenso na Selic

O Banco Central passou a ver inflação menor em 2017, ainda mais abaixo do centro da meta oficial, e também deixou claro que vai fazer uma "intensificação moderada" no ritmo de corte dos juros básicos diante da desinflação mais difundida. "A consolidação do cenário de desinflação mais difundida, que abrange os componentes da inflação mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, fortalece a possibilidade de uma intensificação moderada do ritmo de flexibilização da política monetária, em relação ao ritmo imprimido nas duas últimas reuniões do Copom", informou BC nesta quinta-feira ao publicar seu Relatório Trimestral de Inflação. Desde que iniciou o ciclo de afrouxamento, em outubro do ano passado, o BC já reduziu a Selic em 2 pontos percentuais, aos atuais 12,25 por cento ao ano. Foram dois cortes iniciais de 0,25 ponto e depois dois de 0,75 ponto. "Essa 'intensificação moderada' sinaliza que ele (BC) provavelmente está pensando num c...

Saiba a diferença entre corretoras de investimentos e bancos

Quando pensamos em começar a investir, as primeiras dúvidas que surgem são:  Como faço isso? Qual o melhor caminho? Converso com a gerente do meu banco ou procuro uma corretora? Respondendo a primeira pergunta, para começar a investir, é preciso contar com ajuda de um intermediário, que nada mais é do que alguém que pegue o dinheiro e coloque nos investimentos escolhidos. Quem pode fazer isto é o próprio banco, ao qual já é correntista, ou as corretoras. Uma corretora de investimentos nada mais é do uma ferramenta que vai apresentar mais alternativas porque possuem habilidades necessárias para identificar e buscar no mercado financeiro as melhores opções. Depois de apresentá-las ao interessado, aplicam a quantia em um fundo escolhido. Essas consultorias funcionam basicamente da mesma forma que os bancos, respeitam as mesmas regras, mas oferecem apenas produtos de investimentos, ou seja, não oferecem conta corrente, produtos de crédito, financiamento e etc. Começar a ...