Roberta e Taís Bento criaram o site
"Socorro! Meu filho não estuda"
Há cerca de 20 anos, Roberta Bento
costumava ver a filha Taís sentar as bonecas e brincar de professora. "Ela
escrevia no quadro, copiava os textos no caderno de cada boneca, fazia os
exercícios e depois corrigia as respostas", diz a mãe. Naquela época, Taís
imitava a mãe, que dava aulas particulares na sala que ficava nos fundos de
casa, e ainda não sabia que a brincadeira viraria realidade.
"Uma vez cheguei em casa e a
Taís estava dando aula de inglês para a moça que cuidava dela", diz
Roberta, que começou a dar aulas para o Mobral, antigo EJA (Educação de Jovens
e Adultos), quando tinha 17 anos.
A menina cresceu e bem que tentou
fugir da carreira da mãe. "Fiz um ano de administração e comecei a dar
aulas de inglês. Vendo a prática em sala de aula, eu percebi que queria mesmo
ir para a área da educação. Prestei vestibular na USP [Universidade de São
Paulo] e fui estudar pedagogia", conta Taís, formada em 2011.
Apesar da inspiração em casa, Taís
diz que não foi fácil escolher a carreira de professora. "No colégio,
ninguém estimula você a ir para pedagogia, letras. Eles querem número de
aprovados em medicina, engenharia, direito. Em casa, eu tinha o exemplo da
minha mãe, que sempre foi muito realizada naquilo que fazia", diz.
"Quando eu decidi mudar de
curso, algumas pessoas disseram para a minha mãe: 'Você investiu tanto na
educação dela para ela fazer pedagogia?'".
De mãe e filha a sócias
Superado o preconceito, mãe e filha
começaram a compartilhar as experiências e os desafios da carreira. Taís
trabalhou durante seis anos em escolas públicas e particulares até montar uma
página no Facebook com dicas para pais de crianças que estavam mal na escola.
Em pouco tempo, a jovem conseguiu
convencer a mãe a deixar a vice-presidência de uma empresa de projetos
educacionais para escolas públicas para criarem juntas o projeto "Socorro!
Meu filho não estuda".
"Quando ela me chamou para
montar a empresa foi um susto, ao mesmo gratificante e assustador", diz
Roberta. Deixou o frio na barriga de lado e pediu demissão do cargo que ocupava
há dez anos. "Percebi que ela sentia segurança na minha experiência e eu
nesse perfil empreendedor que ela tem".
Desde outubro do ano passado, as duas
tiram dúvidas de pais aflitos pelo site, que é gratuito, e em palestras e
cursos, que são pagas. E qual é o pedido de socorro mais comum? O mesmo que
Roberta teve que resolver quando a filha era pequena: o dilema entre a falta de
tempo e a necessidade de acompanhar de perto Taís na escola.
"Eu sempre tive certeza: o mais
importante era a qualidade e não quantidade do tempo que eu passava com ela.
Quando estávamos juntas, nem que fosse só meia hora, eu ficava totalmente
concentrada nela. E qualidade não era deixá-la fazer o que quisesse. Eu sabia
que ela precisava que eu estabelecesse limites e que dissesse não algumas
vezes", diz.
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