Pular para o conteúdo principal

A INVIÁVEL VOLTA DO CONTROLE DE IMPORTAÇÕES


   Um traço comum aos que advogam essa estratégia é a simpatia pelos instrumentos de política econômica usados no País entre as décadas de 1930 e 1980. As elevadas taxas de crescimento do PIB continuam na memória de todos, ao mesmo tempo que outras características do período são devidamente esquecidas, como a destruição gradual da moeda, a formação de um parque industrial que não investia em progresso técnico e o perfil de distribuição de rendas.
   Um fato histórico que os defensores de medidas restritivas às importações parecem ignorar é o de que as crises de 1929 e 2008 provocaram impactos opostos sobre o balanço de pagamentos do País. No momento do colapso da Bolsa de Valores de Nova York, nossas reservas internacionais eram de cerca de 30 milhões de libras, reduzidas a zero em 1931. Além disso, nos dois primeiros anos daquela crise, a taxa de câmbio desvalorizou-se em mais de 60%.
   Em contraposição, entre 2008 e 2010, as reservas subiram de US$ 194 bilhões para US$ 289 bilhões, mantendo o processo de acumulação iniciado em 2000, quando o montante foi de apenas US$ 33 bilhões. No segundo semestre de 2008, a taxa de câmbio sofreu uma desvalorização de 35%, mas, logo em seguida, retomou a trajetória de apreciação, em vigor desde 2004. O desafio que o governo enfrentava nos anos 30 era o de administrar uma economia submetida a uma restrição cambial aguda e sem perspectiva de superação. As medidas defensivas adotadas responderam àquele desafio, e, nas quatro décadas seguintes, o controle permanente sobre as importações permitiu a implantação do parque industrial mais diversificado entre os países em desenvolvimento da época. A contrapartida dessa façanha foi a geração de um conjunto de distorções domésticas ainda não superadas totalmente.
   O desafio atual é bem distinto: assegurar a sobrevivência da indústria nacional, num contexto marcado pela apreciação duradoura da taxa de câmbio, sem risco iminente de crise cambial. Dados os padrões de competição gerados pela revolução contemporânea nas tecnologias de informação, a política industrial apta a lidar com esse desafio tem duas prioridades: reduzir os custos de transação na economia brasileira e elevar o ritmo das inovações na indústria. A redução dos custos de transação depende não apenas da execução de reformas ainda pendentes na agenda de políticas públicas, como a tributária e a trabalhista, mas também da correção de falhas advindas de algumas das mudanças realizadas nas duas últimas décadas. Um exemplo notável de obstáculos recém-criados é o atual marco institucional do setor portuário, que reúne um conjunto de normas mal definidas e contraditórias.
Se a indústria nacional não for capaz de elevar seus níveis de eficiência produtiva, certamente continuará perdendo espaço para os competidores externos. Para evitar isso é indispensável reduzir custos domésticos de transação, que são mais elevados do que os vigentes nos principais parceiros comerciais do País. Mas qualquer medida nessa direção implica não apenas mudanças normativas complexas, mas a eliminação de fontes de renda para alguns agentes econômicos resistentes às mudanças.
   Uma forma de eludir esse conflito seria a de retornar aos controles sobre as importações. Mas essa opção restauraria um estilo de política econômica que, durante décadas, inibiu o desenvolvimento tecnológico da empresa privada nacional, exacerbou a iniquidade social e desorganizou as finanças públicas. O governo Dilma já indicou, ainda que parcialmente, suas preferências, ao manter a independência operacional do Banco Central, o câmbio flutuante e o regime de metas de inflação. Entretanto, não significa que as pressões protecionistas desaparecerão. As propostas que confundem política industrial com reserva de mercado, ignoram o conceito de preços relativos e desprezam benefícios de uma moeda conversível continuam, infelizmente, a desfrutar de prestígio intelectual no País.
Fonte: O Estado de São Paulo

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Trabalhar com o que ama ou com o que dá dinheiro?

Habitualmente, a resposta é a própria pergunta. Trabalhe com o que ama, usufruindo de suas vocações e o dinheiro será a consequência. Se você ama sua carreira, já tem metade do que precisa profissionalmente. E considerar: talento, vocação, propósitos e valores; capacitar-se; ter equilíbrio emocional; encontrar oportunidades, estar pronto para assumi-las e as valorizar: mais 50%. É um todo matemático que torna grande a probabilidade de dar certo (alcançar lucros e rentabilidade). Porém sabemos que não é fácil. E ao falarmos de partes, metades e conjuntos, devemos somar, subtrair e pesar certos pontos. Precisamos pensar além do "habitual". Sonhos e decepções Desde criança somos condicionados a imaginar "o que queremos ser quando crescer". Os anos passam. Nos descobrimos, somos contagiados por experiências, vivências e contaminados bombardeadamente por responsabilidades. Tão explosivas às vezes, que acabamos adiando, atrasando e até mesmo, perdendo nossos sonhos ...

BC vê inflação menor em 2017 e cenário de corte mais intenso na Selic

O Banco Central passou a ver inflação menor em 2017, ainda mais abaixo do centro da meta oficial, e também deixou claro que vai fazer uma "intensificação moderada" no ritmo de corte dos juros básicos diante da desinflação mais difundida. "A consolidação do cenário de desinflação mais difundida, que abrange os componentes da inflação mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, fortalece a possibilidade de uma intensificação moderada do ritmo de flexibilização da política monetária, em relação ao ritmo imprimido nas duas últimas reuniões do Copom", informou BC nesta quinta-feira ao publicar seu Relatório Trimestral de Inflação. Desde que iniciou o ciclo de afrouxamento, em outubro do ano passado, o BC já reduziu a Selic em 2 pontos percentuais, aos atuais 12,25 por cento ao ano. Foram dois cortes iniciais de 0,25 ponto e depois dois de 0,75 ponto. "Essa 'intensificação moderada' sinaliza que ele (BC) provavelmente está pensando num c...

Saiba a diferença entre corretoras de investimentos e bancos

Quando pensamos em começar a investir, as primeiras dúvidas que surgem são:  Como faço isso? Qual o melhor caminho? Converso com a gerente do meu banco ou procuro uma corretora? Respondendo a primeira pergunta, para começar a investir, é preciso contar com ajuda de um intermediário, que nada mais é do que alguém que pegue o dinheiro e coloque nos investimentos escolhidos. Quem pode fazer isto é o próprio banco, ao qual já é correntista, ou as corretoras. Uma corretora de investimentos nada mais é do uma ferramenta que vai apresentar mais alternativas porque possuem habilidades necessárias para identificar e buscar no mercado financeiro as melhores opções. Depois de apresentá-las ao interessado, aplicam a quantia em um fundo escolhido. Essas consultorias funcionam basicamente da mesma forma que os bancos, respeitam as mesmas regras, mas oferecem apenas produtos de investimentos, ou seja, não oferecem conta corrente, produtos de crédito, financiamento e etc. Começar a ...